My life is not like a movie; essay on descontruction of reporting between literature and journalisme
Resumo
Apesar de ser considerada, entre os jornalistas, como a “arte nobre do jornalismo”, a reportagem tem sem dúvida um estatuto menor no painel das narrativas modernas, especialmente se a compararmos com as mais relevantes categorias da literatura (novela, conto, poema,) do cinema (filme, documentário) do teatro ou da música (ópera), por exemplo. Não que a reportagem seja uma narrativa menor (apesar de nos últimos anos ter vindo a ceder espaço nos media para o comentário), mas porque, ecoando Foucault, nas formações discursivas de cada época constitui-se
uma escala de valores entre saberes originada a partir do jogo do poder. A cultura não celebra as reportagens e os seus autores da mesma forma
que as ficções literárias e cinematográficas distinguidas com prémios de visibilidade planetária como o Nobel ou os Oscar. Fora do campo jornalístico não há reportagens que façam história, que figurem nos livros de escola. Em busca de estatuto, alguns repórteres tornam-se autores de livros de ficção. Outros publicam as suas reportagens em livros. Para muitos destes jornalistas o treino de escrita de reportagem é assumido, com orgulho, como um patamar essencial para se tornarem escritores,
ou seja, praticam a reportagem como etapa antes da literatura. Mas não deveria ser antes o oposto, ou seja, o ensaio livre da literatura como antecâmara para a difícil, complexa e muito responsável escrita do real? Justifica-se, portanto, iniciar esta reflexão analítica com a pergunta já antes formulada por Elisabeth Eide em What novels can do, and journalism can not? ou seja o que conseguem as novelas que o jornalismo não consegue? Uma outra forma de colocar o problema é questionar por que dizemos
normalmente “a minha vida dava um filme” e não dizemos “a minha vida dava uma reportagem”. Porque nunca conseguiram os repórteres ter lugar nos panteões da cultura se a matéria das suas histórias é a vida real e tantas vezes o alimento
dos romancistas? Como resolver o paradoxo de o jornalismo e de o poder mediático serem centrais no espaço público moderno e mesmo assim não conseguirem “fazer ver e fazer falar” (Deleuze, 1986) as suas melhores obras na história?