Os mitos e as figuras mitológicas da cultura clássica constituem um
corpus particularmente fértil dentro da literatura ocidental, uma vez que,
ao longo de séculos, têm estado na origem de muitas novas histórias e
reconfigurações. Cada época e cultura específicas os reescreve num
movimento de transgressão que se apropria das histórias e das figuras
do passado para produzir configurações que traduzem o momento histórico
e a cultura que as reescreve. No contexto da literatura inglesa – i.e., da
literatura em inglês – desde a década de 1980 que as reescritas feministas
deste rico acervo são particularmente importantes.
N esta comunicação abordarei o último livro de Margaret Atwood, The
Penelopiad (2005) – uma reescrita da Odisseia do ponto de vista de
Penélope e das servas executadas – tentando mostrar como Eros, ou o
desejo, são usados na reivindicação do direito das mulheres à sexualidade
e à subjectividade. Como contraponto à escrita de Atwood, marcadamente
feminista, abordarei ainda a figura chamada Desejo na série de romances
gráficos The Sandman (1992-1997), de Neil Gaiman – uma figura andrógina
que pode ser lida como pós-feminista, e que contribui, também ela, para
a redefinição da nossa forma de pensar – ou de imaginar – o «feminino»
e o «masculino»