Nos países da Europa do sul que conheceram regimes autoritários de inspiração
fascista, a palavra corporativismo tornou-se hiper-referencial do ponto de vista sociológico
e sub-analisada do ponto de vista histórico.
Neste como noutros domínios, a memória social das ditaduras incorporou no
discurso político da «era democrática» algum património semântico dos fascismos, mas olvidou a historicidade desses conceitos. No que respeita ao corporativismo –
conceito tão complexo e poluído por discursos doutrinais que chega a intimidar os
historiadores –, no caso português continua a ser escassa a análise histórica dos processos
de institucionalização da teoria e da doutrina corporativas.
Como salientaram autores como Juan Linz, Stanley Payne, Philippe Schmitter e
Manuel de Lucena, a relação histórica dos fascismos com a ideologia corporativista
foi muito variável no grau e na forma. Para os fins deste debate, é o corporativismo
económico, ou a mobilização da teoria e doutrina corporativas para a experiência
histórica (concreta) de institucionalização da «economia nacional de base corporativa»
definida por Salazar em 1933 que mais importa discutir.