Pretende-se com esta reflexão, em torno da crescente importância que as empresas,
enquanto objecto da história, ganharam nas últimas três décadas, realçar o papel do
paradigma ideológico dominante neste mesmo período (marcado, essencialmente, pela
crise do Estado social e pelo neoliberalismo) no desenvolvimento da investigação em
história empresarial. Será inútil, a nosso ver, pretender desligar aquilo que alguns
autores têm vindo a denominar de culto das empresas e dos empresários do fim de
um paradigma, também ele acrítico e redutor, em que a história (à semelhança das
outras ciências sociais) desvalorizava a empresa como objecto de estudo. Felizmente,
a empresa é hoje entendida na sua complexidade económica e social e não apenas
como local de exploração e de alienação, colocando, por isso, interessantes desafios teóricos e metodológicos às várias ciências sociais que sobre ela se debruçam. Ora, o
paradigma actual de responsabilidade social das empresas, conceito tão comum na
literatura recente da gestão das organizações lucrativas e não lucrativas, tem tudo para
interpelar de um modo muito particular os historiadores das organizações empresariais,
obrigando-os, é certo, a novos e diferentes voos teóricos e metodológicos (fazendo,
aliás, jus a um discurso histórico problematizador de outros combates) que, necessariamente,
os afastará de uma história de empresa sem conteúdo teórico, descritivo,
narrativo e muitas vezes apologético.