Neste texto procura-se reflectir sobre as condições de possibilidade de
uma retórica da imagem. Tendo a retórica sido, historicamente, uma disciplina centrada
sobre os efeitos persuasivos do discurso verbal e escrito, como poderá ela pensar a
preeminência que a imagem tem adquirido no campo mediático comtemporâneo. A
pergunta, pois, sobre a qual se procura aqui reflectir, formular-se-á assim: como será
possível pensar uma retórica da imagem no início do século XXI?
É frequente ouvir-se, hoje em dia, a expressão “uma imagem vale mais do que mil
palavras.” Pretende-se com isso, as mais das vezes, afirmar e justificar a predominância
da imagem num mundo cujo espaço público é sobretudo ocupado pelos meios de
comunicação electrónica centrados na imagem, isto é a televisão. O “valer mais” da
imagem poderia querer significar que esta carrega consigo mais informação. Mas não é
tanto isso que a expressão quer significar. Antes ela pretende demonstrar que a imagem
é mais persuasiva do que a palavra.
O título desta comunicação levanta desde logo um problema. Ele enuncia um
paradoxo de raiz histórica. Nas suas origens helénicas, a aproximação de dois termos
como “retórica” e “imagem” releva do impensável.
Historicamente, e desde as suas origens helénicas mais remotas, a retórica é
entendida como uma teoria e uma prática essencialmente relacionada com o discurso
e a linguagem, excluindo portanto a imagem.
Basta lembrar Platão, no Górgias, para nos darmos conta do paradoxo contido
nessa aproximação. No celebrado diálogo sobre a retórica, que tem precisamente por
objectivo definir “o que é a retórica?”, é à imagem que Platão atribui a identificação
mesma do contrário da retórica