A Retórica apresenta-se, diacronicamente, envolvida em avanços e recuos,
alargamento e diminuição de algumas das suas partes e, ainda, caracterizada como branca
ou preta, morta ou ressuscitada. Haveria azo a perguntar: trata-se, ainda, da mesma
ou de várias disciplinas? A ser única e com subdivisões, interrogar-nos-emos: quais
os fundamentos da sua compreensão?−Penso estarmos não só perante uma disciplina
una, como diacronicamente em desenvolvimento quanto aos produtos discursivos e
ao espaço social de intervenção, tornando-se cada vez mais complexa por confronto
e exigência das sociedades que a solicitam, em cada nova Idade, e às quais responde
positivamente, de acordo com as novas necessidades que se vão manifestando.−Como
pressuposto, temos que a Retórica se tem apresentado como “didáctica dos discursos”,
uma “teoria do texto”, termo esse que Van Dijk preferiria a esta expressão se não
acontecesse, como refere, que “o conceito de retórica frequentemente se associa a
determinadas formas e manifestações estilísticas e de outra índole, em especial na
comunicação pública e persuasiva.” (Van Dijk 1992: 19)−Estamos, assim, perante
uma disciplina de comunicação discursiva, que se multiplica por espaços e tempos
diferentes, num movimento pendular entre a sociedade, onde tem o seu espaço de
autenticidade e eficácia, a escola, onde é objecto de tratados múltiplos, por parte
de académicos, e a aprendizagem, do lado dos escolares.−A Retórica estrutura-se,
assim, entre Sociedades, que a ela recorrem sob formas várias, tratados retóricos, que
lhe traçam os correspondentes rostos, e Escolas, que os recebem e os transmitem de
gerações em gerações, na preparação dos escolares para a vida activa.−Este triângulo
retórico: Sociedade - Retórica - Escola, constituído instrumento de investigação,
permite estabelecer critérios, apontando três retóricas que se tornam concomitantes após o surgimento sucessivo da segunda e da terceira.−Trata-se da Retórica clássica,
antiga ou da inventio, localizada nos tribunais, e que mantém a sua actualidade
desde a Grécia e Roma até aos nossos dias; da Retórica literário-cultural, romântica
ou da elocutio, situada na governação do Estado moderno e institucionalizada na
literatura, que se expande a partir do século XVI e mantém, até hoje, a sua vitalidade;
e da Retórica comunicativo-funcional, das empresas e organizações ou da dispositio,
surgida na segunda metade do século XX, que dá os seus primeiros passos em termos
tratadísticos, reflexivos e escolares.