Em Pour Marx, a obra de Louis Althusser intensamente lida, comentada e parafraseada
também em Portugal, sobretudo em alguns meios universitários a seguir ao
25 de Abril, um capítulo parece ter sobrevivido incólume às tempestades hermenêutico-
políticas: «Le “Piccolo”, Bertolazzi e Brecht (Notes sur un théâtre matérialiste)».
Como esta incursão no teatro fosse estranha à reinterpretação do marxismo de que
Pour Marx lançou os fundamentos, o texto motivou unicamente (se motivou) leituras
rápidas e silenciosas, sem consequência teórica nem ressonância pública. A presente
comunicação não pretende interpretar esse silêncio, nem determinar o seu lugar entre
a rasura e o desconhecimento. Pretende reler o texto hoje porque há boas razões para
considerar que se trata do «verdadeiro centro geométrico e teórico do livro».
A crítica volve-se, num primeiro momento, para a problematização dos conceitos
de consciência e de consciência de si – problematização que pertence às operações
conceptuais no interior de Pour Marx bem como ao aprofundamento do estatuto das
ciências humanas e da importância da psicanálise, que Althusser desenvolve, ao mesmo
tempo, em textos que deixou dispersos